Nos últimos anos, o burnout deixou de ser um problema isolado para se tornar um tema amplamente discutido. Esta condição, que combina exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal, tornou-se um dos maiores desafios da saúde mental no trabalho.
Ainda assim, não é incomum receber em terapia pessoas que se sentem esgotadas sem reconhecer que estão a viver estados moderados a severos de burnout. Muitas vezes, os sintomas surgem mascarados por uma exigência crescente de produtividade e um sentimento de culpa por não “renderem mais”.
Como me relatou recentemente a N., 33 anos, diretora de marketing:
"Na terça-feira, não sei o que me deu. De manhã, não consegui levantar-me. Fiquei às escuras durante horas e chorei compulsivamente. Sei que me vai perguntar sobre o que desencadeou isto, mas não faço ideia."
A N. sabia que eu lhe ia perguntar por possíveis gatilhos, mas também sabia que ela dificilmente identificaria um motivo específico. Na verdade, o problema estava acumulado: semanas de trabalho extenuante, pressões constantes para apresentar resultados e dificuldades na relação amorosa que agravaram a sua ansiedade e mudanças de humor.
A N. é uma mulher altamente independente e funcional, mas, como muitas pessoas, tem dificuldade em reconhecer e respeitar os seus limites. Este padrão é cada vez mais comum numa sociedade que valoriza a produtividade acima de tudo.
Burnout: uma condição multifatorial
O aumento do burnout só pode ser explicado através de uma combinação de fatores culturais, sociais, económicos e tecnológicos.
Vivemos numa cultura que glorifica a produtividade, onde trabalhar 18 horas por dia é considerado sinónimo de sucesso. Quantas vezes admiramos "workaholics" como se fossem super-heróis, elogiando o seu sacrifício enquanto ignoramos os danos causados por essa busca insaciável por resultados?
Além disso, a sociedade acelerada e a conectividade constante criam um ambiente tóxico. O conceito de "sempre online" transformou-se numa expectativa: estar disponível 24/7, responder imediatamente, resolver problemas a qualquer hora. Mas a consequência disso é evidente: noites mal dormidas, fins de semana sem descanso e férias que nunca parecem começar.
A perda de controlo é clara. Existe um fluxo incessante de informação e exigências que tornam o silêncio e a desconexão impossíveis. Para muitos, a frase “não consegui levantar-me” já se tornou um triste reflexo dessa realidade.
As Gerações que Trazem o Tema para a Luz
Embora o burnout não seja um fenómeno novo, as gerações Y (Millennials) e Z têm dado mais visibilidade ao tema. Estas gerações, nascidas nos anos 90 e 2000, cresceram imersas na cultura da produtividade e da conectividade digital. Paradoxalmente, enfrentam também maior precariedade laboral, o que aumenta a pressão.
São estas as gerações que sofrem os sintomas de burnout de forma mais precoce, mas também aquelas que têm liderado a conversa sobre saúde mental. Através das redes sociais e de discussões abertas, estas gerações desafiam tabus, valorizam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e lutam por condições de trabalho mais saudáveis.
Sintomas do Burnout
O burnout manifesta-se de formas físicas, emocionais e cognitivas. Alguns dos sintomas mais comuns incluem:
Fadiga crónica, mesmo após períodos de descanso.
Alterações no sono e apetite.
Dores musculares, cefaleias e maior suscetibilidade a doenças.
Irritabilidade e falta de paciência.
Diminuição da produtividade e dificuldade em cumprir prazos.
Sentimentos de distanciamento em relação ao trabalho e às pessoas.
Isolamento no contexto laboral e pessoal.
Como Lidar com o Burnout
É essencial reconhecer os sinais de burnout e implementar estratégias para evitá-lo ou lidar com ele:
Conheça os sinais de alarme: Esteja atento(a) à sua saúde física, emocional e mental.
Defina limites claros: Procure um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, mesmo que seja com pequenos ajustes.
Faça pausas regulares: Pequenos intervalos durante o dia ajudam a aliviar o stress acumulado.
Procure ambientes saudáveis: Sempre que possível, escolha contextos de trabalho com limites bem definidos e valores que respeitem o bem-estar.
Converse sobre o tema: Promova discussões no trabalho e na sua rede de apoio, quebrando tabus sobre saúde mental.
Invista em autocuidado: Priorize atividades que promovam o seu bem-estar físico e emocional.
Procure ajuda profissional: Se os sintomas persistirem, não hesite em procurar apoio psicológico.
O burnout é uma condição séria que afeta profundamente a saúde física, emocional e social. Recuperar é possível, mas exige tempo e uma abordagem consciente.
Lembra-te: burnout não é sinal de fraqueza ou fracasso. É uma resposta ao desequilíbrio causado por contextos incompatíveis com a saúde mental e o bem-estar. Falar sobre o que sentes e pedir ajuda é o primeiro passo para a recuperação.
Se sentes que podes estar a enfrentar sintomas de burnout, prioriza a tua saúde mental.
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