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Explorando as emoções: fui ver o Divertida-Mente 2

Foto do escritor: Diana CruzDiana Cruz

Quem já foi ver o filme Divertida-Mente 2 (Inside Out 2), sabe que este não é apenas um filme de entretenimento, mas uma janela fascinante para a compreensão da complexidade que são as emoções humanas. Como profissional de saúde mental, vejo Divertida-Mente 2 como uma ferramenta poderosa para educar - tanto crianças, quanto adultos - sobre a importância de reconhecer e aceitar as nossas emoções.

 

O filme Divertida-Mente 2 (Inside Out 2) tem sido esperado com bastante expectativa e, desde a sua estreia que temos assistido ao prazer de todos aqueles que o têm ido ver.

O meu caso não foi diferente: estava muito entusiasmada por esse momento! Sobretudo, porque adorei o primeiro filme. Não me envergonho de dizer que o uso muitas vezes em sessão, me recordo muito dele e tiro partido do modo simples e bonito com que o filme mostra e explica como funciona o nosso cérebro: as nossas emoções, memória - e até o nosso inconsciente.

 

Em Divertida-Mente 1, somos apresentados às emoções básicas de uma menina de 11 anos a lidar com diversos desafios pessoais e familiares concordantes com a sua idade:

·       a Alegria, no seu leve e saltitante vestidinho verde.

·       A Tristeza, insegura, sem energia entusiástica e com uns olhos muito redondos e ternos.

·       o Medo, inquieto e cheio de ideias sobre tudo aquilo que pode vir a correr mal.

·       a Raiva, que nos arranca um riso fácil, provavelmente porque a maioria de nós se identifica com aquele impulso, impaciente, mas quase sempre tão bem-intencionada.

·       A Repulsa, gira, bem vestida e aprumada, que se afasta de coisas desagradáveis, incómodas, sempre muito seletiva.

 

As emoções básicas da Riley, são as emoções básicas de todos nós.

 

Quando chegámos ao fim deste primeiro «Divertida-mente», saímos bem-dispostos -  eu saí - e com uma lição de vida para não esquecer: as emoções são todas importantes para o bem-estar emocional e para conseguirmos lidar com os desafios que a vida nos traz. Até a Tristeza, que parecia dificultar tudo, criar obstáculos, foi tão importante na missão destas 5 emoções básicas em fazer a Riley feliz.

 

Pelo meio, percebemos o que é a complexidade da formação inicial da personalidade e a importância das memórias nessa estrutura e nos nossos comportamentos.

 

Foi assim que cheguei carregada de pipocas ao cinema para assistir ao Divertida-mente 2: certa de que me ia divertir, certa de que ia aprender ou rever conhecimentos, absolutamente convicta de que traria boas lições de vida para mim e para, novamente, partilhar com todos incluindo em consulta.

 

Estava muito confiante naquelas 5 emoções de cores bonitas e, agora, elas apreciam evoluídas. A Alegria está bem entrosada com as outras emoções e conta com elas para trazer bem-estar a Riley e a Tristeza tornou-se o seu braço direito, que “aguenta o forte” quando a Alegria tem outras missões.

Até o Medo deixou de se mostrar, apenas, com aquela força paralisante que só vê o que pode correr mal; ele é também protetor e esforça-se para que nada de mal possa acontecer.

 

Nesta sequela, Riley está mais velha, claro. É adolescente e, como tal, dentro dela, à medida que se somam emoções também surgem novas emoções, mais complexas. Estas emoções vieram perturbar o equilíbrio anterior e, inicialmente parecia não haver entendimento possível entre os nossos 5 primeiros amigos e as novas emoções: a Ansiedade, a Inveja, a Vergonha e o Tédio.

 

A Ansiedade é uma das grandes estrelas do novo filme. Sempre agitada e demasiado “espaçosa”, ela toma conta da liderança afastando as emoções básicas dos comandos, passando a preocupar-se com tudo o que pode vir a acontecer ou nunca vir a acontecer. A sua preocupação é tão intensa que deixa de saber responder às verdadeiras necessidades de Riley, contribuindo para complicar mais a vida dela, muitas vezes, e para a fazer sentir-se infeliz.

 

A pequena Inveja, com uns olhinhos muito maiores do que todo o seu corpo está sempre perto da ansiedade, observando tudo à sua volta para com as suas comparações concluir que a Riley está diminuída ou em situação de inferioridade. Apesar de pequena, ela fortalece a ansiedade que se convence ainda mais de que deve assumir os comandos. Ela impacta também noutra das novas emoções, a Vergonha, uma emoção enorme disforme que se pudesse estava sempre coberto, invisível, inerte, e que nunca fala com ninguém ao longo de todo o filme.

A Vergonha, não vem só fortalecer o seu grupo de emoções complexas. Ele é o primeiro a mostrar a importância das emoções se unirem e colabora com a Tristeza, na missão de devolver o bem-estar psicológico a Riley. Sem estes dois tudo teria sido muito mais difícil. 

 

Não existe más emoções ou emoções inúteis, pois não?

 

Por fim, o Tédio, essa emoção tão marcante na adolescência e que surge tantas vezes, na tentativa de defender Riley das emoções negativas com a sua falta de energia e iniciativa, com o seu desinteresse sobre toda e qualquer coisa, entregue a uma atividade – a consola de jogos – que a alheia de todo aquele rodopio de emoções em que o filme nos coloca e no qual vamos seguindo os heróis da história.

 

Nessa jornada, voltamos aos meandros da nossa mente: o papel das memórias boas e más, o inconsciente, a identidade que é vulnerável e precisa de ser cuidada. Neste ponto, não posso deixar de assinalar a referência à importância da comunicação, visitada através de uma catástrofe natural chamada Sarcasmo, que abre um fosso entre os vários intervenientes da mente, gerando conflito. Permitam-me dizer que esta representação do Sarcasmo foi absolutamente genial!

 

A mensagem é clara: crescer é difícil. Dentro de nós existem múltiplas emoções que nos ajudam e também nos complexificam. A nossa a saúde mental é um continuum em que muitas vezes nos é difícil identificar quando é que o desconforto e o sofrimento já foram longe de mais. 

E, sobretudo, todas, mas mesmo todas as emoções, são importantes – mesmo as negativas. Assim, como determinadas memórias que trazendo desconforto trazem também a riqueza da nossa identidade e a possibilidade de conhecermos de encararmos a nossa vulnerabilidade – sendo bons e podendo tornar-nos ainda melhores.

 

É no final do filme que as emoções se unem para ajudar a ansiedade e só assim a conseguem controlar, e tomam cada uma o seu lugar na sala de comandos, vivendo serenamente em conjunto. A Ansiedade não é ignorada nem mandada embora, ele é vista e cuidada com chá e uma poltrona de massagens confortável, para que o bem-estar da Riley seja ainda maior.

 

Uma das minhas partes favoritas do filme é aquela que nos mostra que até a alegria nos pode complicar a vida já que as emoções e memórias negativas nos fazem muita falta para nos sermos resilientes.

 

Falei com um adolescente da idade de Riley em Divertida-mente 2, que me disse que a sua parte favorita – e adorou o filme todo – é aquela ideia “no final do filme em que não podemos escolher o que uma pessoa é”, ela não pode ser só boa, só bem-sucedida, só sentir coisas boas. E eu concordo.

 

E não se esqueçam da Nostalgia! Essa emoção que é sempre escondida e restringida – a velhota que está sempre por ali sem se mostrar e quando o faz ninguém lhe quer dar demasiada importância pelo que a afastam constantemente, melindrados pelo que esse olhar através do passado possa trazer. Esta velhota também vive exatamente assim dentro de nós, não é? De vez em quando ela abre a porta da nossa mente e entra e nós vamos logo acompanhá-la novamente à saída porque sentimos que mais uma emoção que não se interessa pelo «aqui e agora» não nos traz vantagem nenhuma. Será ela também uma janelinha para o futuro e a visão de que ainda vem aí um Divertida-mente 3?

Não deixem de ver e não deixem de levar a vossa família.

 

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© 2023 por Daniela Ventura

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