A manhã de hoje no consultório deu-me muito que pensar sobre exposição e como nos podemos sentir diante desse “holofote imaginário”. As paredes de um gabinete de psicoterapia veem e ouvem muita coisa, cá dentro muitos medos, emoções, alegrias, dúvidas, angústias, se mostram à luz do dia.
Por vezes, mostram-se pela primeira vez e não é incomum que seja o próprio ato de os trazer que permita reconhecer que eles existem.
Isso não foi o que aconteceu comigo, ou não totalmente. Eu já sabia que gosto muito de estar no meu “cantinho”, a fazer aquilo que me tenho preparado para fazer melhor, mas sem audiência, sem holofotes e sem objetivas de máquinas fotográficas apontadas para mim. Dirão que estou a exagerar e têm razão: ter uma objetiva apontada para mim a ser disparada suavemente por uma fotógrafa empática com o meu desconforto com a exposição, não é, nem de perto, ter os holofotes virados para mim.
Mas foi assim que eu me senti durante (quase) todo o tempo e foi por isso que comecei a pensar sobre como deve ser difícil para algumas pessoas, sobretudo as que têm que se expor todos os dias; ou aquelas que, como eu, se sentem expostas mesmo quando não estão necessariamente a fazê-lo e que, ao contrário de mim, têm que repetir a exposição rotineiramente.
A exposição planta em nós uma vigilância redobrada na mensagem que passamos ao mundo seja através do nosso corpo, da nossa expressão emocional, das palavras que utilizamos, tudo! Naquele momento, ficamos num estado como que de “hiperconsciência” daquilo que somos e do que queremos representar e os nossos padrões de perfeccionismo, de responsabilidade excessiva, de autocrítica, encontram um terreno fértil para crescerem e tomarem conta de nós, por breves momentos, como me aconteceu, ou por períodos mais prolongados da nossa vivência.
Naquele momento em que seguia a instruções necessárias, e depois de conseguir deixar de pensar “porque é que me meti nisto!?” esta foi a minha reflexão: importante não é fugir da exposição que nos incomoda e até assusta – o mundo e todas as pessoas que o habitam não vivem em torno da nossa exposição, nós somos apenas parte de tudo o que existe. O mais importante a trabalharmos dentro de nós são as razões para nos sentirmos assim.
Por isso, aproveitei a experiência para fazer o meu trabalho e tomei algumas notas sobre as razões de me sentir tão mais confortável a fazer o meu trabalho sem que ele seja “visível”. Pensei sobre a minha autoexigência e como, por vezes, ela me faz hesitar antes de fazer alguma coisa em que acredito e que considero poder ter alguma utilidade para alguém ou para mim mesma.
Decidi também escrever esta “história do consultório” que hoje é mesmo minha, porque certamente muitas pessoas se sentirão como eu e estão também neste percurso de desenvolvimento pessoal infindo que é o de potenciar cada dia mais as nossas capacidades e oportunidades de vida.
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