O que é o sofrimento? Para que serve? Será que podemos lidar com ele e transformá-lo em algo impulsionador? Neste artigo, partilho uma reflexão sobre este tema, com direito a uma história inspiradora e verídica. Ora vê.
Muitas pessoas chegam à psicoterapia (e, por vezes, nem chegam) descrentes da possibilidade de transformarem o seu sofrimento em alguma coisa positiva ou em alguma aprendizagem que, não tornando o sofrimento bem-vindo, o torna útil e lhe dá um sentido.
De facto, o sofrimento não é «apenas» uma reação a qualquer coisa que considerámos ser negativa ou indesejada por nós. Ele representa também uma mensagem acerca do nosso desconforto, que nos convida a observar as nossas necessidades do momento, aquilo que nos faz sentir melhor e a forma como podemos expandir o nosso potencial a partir da experiência desafiante que estamos a viver. As crises, as dificuldades e, quem sabe, até as experiências traumáticas, podem constituir uma oportunidade de aumentar o nosso autoconhecimento e o nosso potencial de desenvolvimento.
Claro que tudo parece melhor dito do que feito, já que fazer estas mudanças representa um trabalho enorme de foco e dedicação, de tolerância à frustração e paciência com um processo de crescimento que não é linear ou imediato.
Este compromisso é o segredo desta possibilidade: não sermos engolidos pelo sofrimento e todas as ações paralelas que ele nos instiga a tomar e que não nos convêm ou ajudam.
E aqui alguém me contou uma «história de psicoterapia» que me inspirou muito para esta reflexão:
«A minha intenção para a escrita surgiu quando senti, quando compreendi que o meu coração estava partido para sempre; preenchido em todas as suas fissuras por mágoas profundas que me impediam de confiar no mundo e em, sobretudo, em mim.
Não era um desgosto, uma sensação de desilusão com um acontecimento em particular que me tinha feito sofrer e questionar o que se tinha passado ali… era uma fratura emocional profunda, uma sensação de tudo aquilo que eu conhecia e em que acreditava estar de cabeça para baixo… se calhar nem isso… simplesmente tinha desaparecido, não havia nada que me segurasse…
Quantas pessoas se sentiriam como eu? Foi assim. De repente, havia um propósito que era maior que eu e isso mobilizava-me de maneiras que o objetivo de me erguer não tinha conseguido mobilizar-me até então.»
O sofrimento quando transmutado permite-nos fazer mais e melhor com os nossos sentimentos e emoções mais profundas, fazendo com que estes deixem de ser um obstáculo. É assim que o sofrimento passa a ser um «motor», um catalisador de algo que representa um propósito e, como tal, traz conforto e sentido para a dor sentida.
Quando isto acontece sentimo-nos diferentes e sentimos que o nosso lugar no mundo se posicionou de outro modo – é a nossa narrativa de vida que é re-contada, dando-nos uma outra perspetiva da nossa história que nos empodera e nos concilia com as experiências de sofrimento que, até então, nos pareciam apenas dor gratuita, inútil senão para a infelicidade.
“O artista cura-se a praticar intencionalmente
a arte que ajuda os outros a curarem-se”
Medicina Sagrada, p. 142
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