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  • Foto do escritorDiana Cruz

Terapia de Casal: Unir e Distinguir

Enquanto admiramos o mundo o há nossa volta com os olhos curiosos por ver rejuvenescer as plantas e renascer as flores, decidi falar-vos um pouco sobre terapia de casal.  Ela é muitas vezes o adubo necessário e (nem sempre) procurado para resistir ao inverno das relações. 


O inverno das relações não tem época, não obedece à ordem rigorosa que encontramos na natureza e pode surgir em qualquer momento em que o casal demonstre fragilidades para as quais não tenha as competências necessárias para resolver.

Deixem-me que vos relembre que, na esmagadora maioria dos casos, as dificuldades relacionais não existem por uma única causa e muito menos têm um único culpado. As relações são feitas de dinâmicas intrincadas específicas daquele casal, naquele momento das suas vidas.


Adicionalmente, cada elemento do casal tem as suas próprias características e história individual. Cada pessoa migra para esta relação com as suas crenças, modelos de relação, sofrimento (e, eventualmente, traumas), expectativas e necessidades. Tudo isto faz com que a construção do casal represente uma matriz complexa de fatores que influenciam essas dinâmicas a que chamamos casal.


A importância da terapia de casal decorre desta complexidade. Contrariamente ao que se possa pensar a maioria dos casais não recorrem à terapia por questões de infidelidade (mesmo que ela possa existir, ou ter existido) ou por “graves problemas existenciais”.


As grandes questões do casal, podemos dizer, são as pequenas questões de todos os dias. Estas, por serem quotidianas – repetidas, constantes – funcionam como a “água mole em pedra dura”: desgastam o casal, podendo criar pontos de fragilidade verdadeiramente fraturantes e que fazem o casal sentir-se num beco sem saída, no vórtice do fim anunciado, impotentes para trazer o melhor à relação e voltarem a sentir aquilo que os fez estar juntos.

Neste momento de crise, não é incomum que os casais comecem a contabilizar os mal-entendidos, desentendimentos e expectativas defraudadas que se vão acumulando, em forma de mágoas, durante o percurso da relação.


Todos os momentos de crise, sejam individuais ou familiares, representam uma espécie de cruzamento no percurso do casal: a crise pode instaurar o caos e a rutura ou pode criar uma desafiante oportunidade para o casal se conhecer melhor, reformular aspetos da sua relação e criar mais e melhores condições para continuar a crescer e a desenvolver-se, de acordo com as necessidades conjuntas e também individuais.


A terapia de casal pode ser determinante qualquer que seja o caminho por onde a crise se desenvolva. São os elementos do casal, no decorrer da terapia que decidem se têm condições e vontade de ficar juntos ou se a sua escolha é separarem-se e reconstruirem-se fora do relacionamento. Neste último caso, a terapia de casal pode ser o espaço muito valioso para o estabelecimento de uma comunicação positiva e para a mediação entre os elementos do casal em separação, ajudando-os a lidar com os sentimentos e com as diferentes decisões que necessitam de ser tomadas (sobretudo, quando existem filhos).


No caso dos casais que vêm à terapia e tomam a decisão de permanecer juntos, muito há a ser feito e, muitas vezes, contra as expectativas do casal. Isto porque quando se sentem desarmonizados, os casais tendem a sentir que precisam de se fundir (mais). Muitas vezes, a terapia conjugal constitui um processo de ajuda ao casal para que este encontre harmonia e comunhão alimentando a autonomia de cada uma das pessoas envolvidas. A terapia de casal une, distinguindo.


Cada um dos elementos do casal tem diferentes necessidades, crenças, valores e expectativas, que precisam de ser acolhidos e validados no seio da relação. O reconhecimento sobre o que é único em cada um é um dos objetivos da terapia, e visa criar um equilíbrio saudável entre a ligação no casal e a autonomia de cada um dos seus elementos.


Este trabalho, é feito ajudando o casal a desenvolver as suas competências de comunicação clara e aberta e a sua capacidade de negociação e resolução de conflitos, de maneira respeitosa por ambas as partes e pelas suas diferenças individuais.

Deste modo, a terapia de casal contribui não apenas para o fortalecimento do vínculo no casal, isto é, para o melhoramento e/ou consolidação de uma relação segura, acolhedora e aceitante; bem como para o desenvolvimento individual dos elementos do casal, nas suas várias dimensões de vida.


Num processo terapêutico em que a reconciliação com base no respeito e valorização individual e conjugal, é possível, a relação tem a oportunidade de sair do seu momento de crise fortalecido, unido e com a confiança restabelecida.



Texto escrito para o Repórter Sombra



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